Fora da pista, pandemia muda rotina da RNK; na pista, Brambila brilha e ganha tudo

Sem presença de público nem de familiares, sem a montagem do costumeiro circo nem festa no pódio, a RNK viveu um dia atípico depois de dois meses de quarentena. Luizinho Brambila conquistou todos os pontos possíveis na rodada.

23/05/2020 – Redação

Pilotos respeitam distanciamento enquanto aguardam sua vez de se dirigir aos karts.

“Ninguém tira a balaclava! Ninguém sai do kart!”, esbravejou Chico Johnscher, piloto e organizador da Copa RNK, assim que os karts pararam no parque fechado e alguns pilotos, por força do hábito, começaram a retirar seus capacetes e se dirigir à balança para a pesagem. A rotina dos participantes da 12ª e 13ª edição do GP de Joinville, no último sábado (16), entretanto, seria bem diferente.

A começar pelo tradicional briefing – reunião de pilotos e direção de prova para as recomendações que antecedem a prova minutos antes da largada – que foi realizado através de vídeo na noite anterior, continuando pelos portões fechados do Kartódromo Internacional de Joinville – onde um funcionário na portaria só liberava o acesso a quem tivesse a entrada autorizada – e terminando com a premiação de cada piloto sozinho no pódio, sem champanha nem abraços e felicitações a distância. Para reduzir ao mínimo a circulação, o contato e a permanência no local, também não foram instalados os materiais publicitários da RNK, nem aplicados adesivos nos karts, nem utilizadas as placas com os números de identificação de cada piloto. E, claro, recipientes com álcool em gel espalhados por todos os espaços, pilotos portando EPIs ou balaclava em tempo integral. Na balança, cones indicavam o espaçamento mínimo para os pilotos aguardarem sua vez de se submeterem à conferência do peso. Tudo para realizar a segunda rodada do campeonato dentro de estritos limites de segurança de modo a evitar a disseminação da covid-19.

O que não faltou foi vontade de acelerar.

Se faltaram as costumeiras rodas de conversa e as animadas palestras e resenhas, se não teve a bagunça da criançada que costuma acompanhar os eventos, se a ausência dos familiares e amigos torcendo foi muito sentida, o que não faltou foi a vontade e dos pilotos de ir para a pista. Com raras exceções, eles já não suportavam mais a crise de dois meses de abstinência – a maioria não sentava num kart desde a etapa de Ingleses, em março.

E na pista, quem sobrou foi Luizinho Brambila, que teve o melhor desempenho histórico na RNK, conquistando o número máximo de pontos possíveis numa rodada: vitória, pole e melhor volta nas duas baterias que disputou.  

12º GP de Joinville

Série B
Luizinho Brambila reapareceu na RNK vencendo.

Sem pontuação pela ausência na abertura da temporada, Luiz Brambila, Bruno Rocha e Anderson Vieira começaram o sábado na série B e foram os protagonistas da primeira bateria. Jackson Gonçalves – os maus resultados em Ingleses também conduziram o campeão de 2019 à série B – poderia ter sido mais um se não tivesse ficado sem freio e rodado logo na primeira curva, depois de ser o P3 no qualify. O tempo perdido para trocar de kart alijou-o da disputa.

Luizinho fez a pole, manteve a ponta na largada e se defendeu bem dos ataques de Anderson Vieira na primeira metade da prova, até que conseguiu abrir uma distância segura para vencer com tranquilidade. Ambos abriram larga vantagem sobre o segundo pelotão, que se enroscou na rodada de Jackson logo após a largada e tinha à frente Felipe Mathias. Este sustentou a 3ª posição por um bom tempo, promovendo a melhor batalha da bateria depois que Bruno Rocha se recuperou do mau início.

A disputa só se definiu na bandeirada, com Bruno em 3º e Mathias em 4º. A “liderança” do 3º pelotão, que valia o 5º lugar, teve entre os principais candidatos Junior Cazu e Emygdio Westphalen, mas quem levou a melhor no final foi Karina Cardozo, que completou o pódio. Emygdio, Cazu e Allysson Rossoni se juntaram ao grupo que subiu para a série A na etapa seguinte.

Série A
Niltinho Rossoni e Andrey Lima: uma das chegadas mais emocionantes na história da RNK.

Na série A, Andrey Lima e Nilton Rossoni mostraram por que lideram a Copa e proporcionaram uma das mais belas disputas pela ponta em toda a história do campeonato. Rossoni fez a pole e venceu praticamente de ponta a ponta, mas teve Andrey colocando de lado com direito a várias sequências de xis e uma chegada espetacular com diferença de apenas 41 milésimos entre ambos.

Briga pela 3ª posição durou a bateria toda e só se definiu na última volta.

No segundo pelotão o equilíbrio foi notável e a briga não foi menos emocionante. Somente dois segundos separaram o 3º do 8º colocado, e quem levou a melhor foi Claudinha Cardozo, que trocou de kart no momento do alinhamento e partiu de P13 para escalar o pelotão e terminar em 3º. Adriano Goulart e Fábio Mathoso completaram o Top 5.

13º GP de Joinville

Série B
Disputa por posições no 2º pelotão foi o que houve de melhor na série B.

Além dos “rebaixados” da série A e dos últimos colocados da série B na prova anterior, esta bateria teve a inclusão de dois pilotos “da casa”: Adrianno Dellagiustina e Guilherme Fachini. Ambos largaram na primeira fila e pularam na frente assim que a quadriculada verde e amarela baixou. Saindo na 3ª posição do grid, Jackson Gonçalves acompanhou o ritmo disputando palmo a palmo a segunda colocação com Fachini, do que se aproveitou Dellagiustina para abrir vantagem e vencer de ponta a ponta. O segundo lugar só foi definido na chegada, em favor de Fachini. Jackson, em 3º, reclamou bastante de alguns lances maldosos do adversário, mas nenhuma punição foi aplicada pela Direção de Prova.

Na briga pelo 4º lugar, Marcos Martins passou Chico Johnscher na largada e correu tranquilo a partir do momento em que este passou a sofrer o ataque de Otto Jr., Anderson Rocha e Bassam Hajar. Otto Jr. deixou escapar o pódio na abertura da última volta ao ser ultrapassado por Chico Johnscher, que garantiu o 5º lugar.

Série A
Brambila comanda o pelotão para vencer mais uma.

Na bateria principal, Luiz Brambila repetiu o que havia feito anteriormente na série B. Largou na pole, manteve a frente na largada e venceu mais uma vez de ponta a ponta. A disputa pelo segundo lugar envolveu Andrey Lima, Bruno Rocha e Fábio Mathoso, uma vez que Rafael Demmer, largando junto a Brambila na primeira fila, foi envolvido em uma confusão e caiu para as últimas posições ainda na primeira volta. O catarinense faria uma bela corrida de recuperação, terminando em 5º.

Andrey Lima manteve a segunda posição durante algum tempo e até conseguiu se aproximar do líder, mas sem vislumbrar real oportunidade de dar o bote e fazer a ultrapassagem. Bruno Rocha, depois de se livrar de Mathoso, partiu no encalço de Andrey para conquistar o 2º lugar no final da prova.

Campeonato
Andrey Lima segue firme na liderança do campeonato.

O GP de Joinville não provocou mudança no topo da classificação. Andrey Lima segue na liderança com 74 pontos, já considerado o descarte, seguido de Nilton Rossoni com 72 e Fábio Mathoso com 63. Subiram na tabela Claudinha Cardozo, em 4º com 62 pontos, Adriano Goulart (5º/57), Chico Johnscher (6º/56) e Rafael Demmer (7º/56). Mesmo sem ter participado da primeira rodada, Luizinho Brambila já desponta em 8º (55 pontos), enquanto Eugênio Fabian caiu para a 9ª posição, com 52 pontos. Com o mesmo número de pontos, Otto Jr. completa o Top 10.

Vitória de Rossoni garantiu a liderança da RBR entre as equipes.

Entre as equipes, a liderança continua nas mãos da RBR Extreme, que obteve mais uma vitória com Nilton Rossoni e um P2 com Andrey Lima, indo para 146 pontos.  Com as duas vitórias de Brambila, a RafaBin FastLap – que conta ainda com Anderson Rocha e RafaBin, este ausente nesta rodada – assumiu a vice-liderança com 126 pontos. A 3ª colocada é a Box45 Racing Team, de Jackson Gonçalves, Claudia e Karina Cardozo, que soma 114 pontos.


Última volta

Anderson Rocha apresentou a máscara criada pela Acrílico Shalon para a RNK.

Mais uma vez impecável o atendimento e a receptividade do Parque Integrado e Kartódromo Internacional de Joinville, que garantiu a realização da etapa com toda a segurança e qualidade.

No reduzido staff que a RNK levou para Joinville, a prestimosa ação de Pedro Giulliano e Michele Pessoa no parque fechado, efetuando o registro da pesagem e auxiliando na observância do uso dos EPIs e distanciamento entre os pilotos.

Nilton Rossoni chegou ao kartódromo se queixando de dores devido a um incidente na véspera, durante um treino privado no Raceland, e cogitou nem largar. Nada que uma boa dose de adrenalina não resolvesse, porque na pista parecia inteiro e ganhou uma das baterias. De volta a Curitiba, no entanto, a constatação médica: três costelas fraturadas.

A vitória de Nilton Rossoni sobre Andrey Lima por 0,041s foi a segunda mais apertada da história da RNK, superada apenas pela vitória de Bruno Vianna, também sobre Andrey Lima, por 0,036s, em São José dos Pinhais, no ano de 2016. Parece que o Japa gosta de emoções fortes: das sete chegadas com menor diferença entre os dois primeiros, ele protagonizou cinco, sendo vitorioso em três.

Marjorie Johnscher: “Preciso voltar pro crossfit”.

É costume da nossa redação solicitar aos pilotos depoimentos para ilustrar as matérias. Raramente, porém, há retorno. Desta vez, três deles merecem registro, ainda que não no corpo da matéria, e seguem aqui na íntegra: “Só fiz fiasco” (Fabian, Eugênio); “Preciso voltar pro crossfit” (Johnscher, Marjorie); “Óleo na pista” (Hajar, Bassam).    

Seguindo as recomendações dos organizadores, a maioria dos pilotos chegou ao kartódromo de macacão, evitando a utilização dos vestiários, como mais uma medida no combate ao contágio pelo coronavírus.

Em pódio solitário, cada piloto recebeu seus troféus individualmente.

Muitos pilotos abdicaram – seja pelo receio de contaminação, seja pelas consequências financeiras que já se evidenciam – desta etapa. Foi o caso de Marco Pitta, Rafa Bin, Bruno Ferrari, Gilmar Coleta, Mauro Mondin, Mir Dall’Agnol, Fabio Jr., Kelvin Axel, António Keps, Leandro Laube, entre outros.

Dentre todos eles, quem mais demonstrou seu desapontamento foi Eduardo Johnscher. Organizador da Copa RNK, pela primeira vez em nove anos de campeonato o piloto ficou de fora de uma prova.

A RNK e o Kartódromo de Joinville demonstraram que é possível, mesmo durante a vigência das medidas de isolamento social, organizar eventos de pequeno porte, com número controlado de pessoas, com plena segurança. Esse tipo de competição é essencial não somente para a retomada gradual da economia e manutenção de empregos, mas para garantia também da saúde mental por meio do esporte e lazer.