Pilotos da RNK contam a experiência de correr as 24 Horas

Como manda a tradição dos endurances, a largada das 24 Horas Rental Kart de Interlagos foi no estilo Le Mans.

Como manda a tradição dos endurances, a largada das 24 Horas Rental Kart de Interlagos foi no estilo Le Mans.

O fim de semana de 2 e 3 de julho de 2016 representa um marco histórico para o kartismo brasileiro, data em que foi realizada a mais longa prova de kart em território nacional: as 24 Horas de Rental Kart de Interlagos. O primeiro time a receber a quadriculada, após 24h00min32,468s, 25 pit stops obrigatórios para troca de piloto e kart, 1234 voltas e pouco mais de 1400 quilômetros percorridos, foi a Car Racing/America.Net.

A iniciativa ousada da Alpie Competições e KGV mostrou que com perseverança, competência e dedicação é possível a organização de grandes eventos automobilísticos mesmo em tempos de crise. Cerca de 360 pilotos distribuídos em 42 equipes competiram das 15 horas do sábado às 15 horas de domingo numa prova que foi um show do início ao fim.

Um mês depois, a experiência ainda está viva na memória dos pilotos do RNK Endurance Team que tiveram a oportunidade de participar dessa jornada histórica. E eles contam agora um pouco do que vivenciaram no mítico Kartódromo Ayrton Senna.

Eduardo Johnscher tendo ao fundo o "S" do Senna do Autódromo de Interlagos.

Eduardo Johnscher tendo ao fundo o “S” do Senna do Autódromo de Interlagos.

“Foi o evento mais bem organizado que participamos até hoje. Toda a estrutura do Kartódromo de Interlagos comportou bem os mais de 300 pilotos participantes e os karts se mantiveram relativamente equilibrados durante as 24 horas de prova”, elogiou Eduardo Johnscher, responsável pelos melhores tempos da equipe. Inconformado com o modesto 31º lugar obtido, porém, o piloto lamentou: “Nosso planejamento não funcionou como gostaríamos. Precisávamos ser melhores na segunda metade da prova para cumprir o que estava na nossa estratégia, mas acabamos tendo um desempenho melhor nas primeiras 12 horas e isso prejudicou nosso resultado final”.

Contribuiu para isso, em parte, o azar de Carlos Feijão na sua vez de ir para a pista com o Parolin, o kart “curinga” de 21hp que podia ser utilizado em dois stints, um em cada metade da prova, e que vira cerca de dois a três segundos mais rápido em relação aos 13hp. “Até hoje sinto o gosto da decepção”, relatou desapontado. “Pelo menos fiz o melhor tempo da equipe com o 13”, comemorou Feijão, que aproveitou para exaltar o trabalho de Antonio Dias Jr., o Tonico, no pit-lane. “O melhor manager das 24 Horas”, elogiou o piloto, satisfeito com a comunicação box-pista. “Vou contratar o cara para ser meu manager privado na RNK, o cara te faz andar”, brincou ele.

Carlos Feijão não teve sorte na sua tocada com o Parolin.

Carlos Feijão não teve sorte na sua tocada com o Parolin.

Chico Johnscher faz uma análise mais pragmática. Para ele, o sucesso numa competição como as 24 Horas é a combinação de rapidez e consistência, aliadas à sorte de enfrentar o mínimo de adversidades durante tanto tempo de prova. “Já tínhamos consciência de que, na melhor das hipóteses, brigaríamos para terminar entre os 20 primeiros por contarmos com um grupo bem heterogêneo, com pilotos que nunca haviam corrido provas longas, outro voltando depois de algum tempo de inatividade, outros fora de sua melhor forma”, justificou Chico.

De Moro, Chico Johnscher persegue um Parolin logo após o amanhecer.

De Moro, Chico Johnscher persegue um Parolin logo após o amanhecer.

A estrutura de apoio também faz muita diferença. Mesmo se tratando de kart amador, a maioria das equipes conta com estrutura profissional. Chico cita, como exemplo, os times joinvilenses Engelman/RA e Unikart. “São equipes com vasta experiência nesse tipo de prova e costumam participar com mais um ou dois karts para fazê-los de ‘escravos’, empurrando e utilizando vácuo para andar mais rápido e até economizar combustível”, explicou Chico Johnscher elogiando a estrutura das equipes do estado vizinho, que contava até com motorhomes para proporcionar mais conforto aos seus integrantes.

Para Eduardo Johnscher, o resultado também está nos detalhes mínimos: “Pela primeira vez senti um cansaço mental maior do que o cansaço físico. A falta de sono prejudicou muito o desempenho e no quarto dos cinco stints previstos para mim, já não conseguia mais me concentrar na pilotagem por causa do sono. Por mais que tivéssemos uma estrutura excelente para refeição e hidratação no box, alguns períodos mais longos de descanso fizeram falta na parte final da prova.”

Ele reforçou o discurso de Chico no que diz respeito ao desempenho dos pilotos da RNK. “Tivemos uma oscilação muito grande nos tempos entre os pilotos da equipe e mesmo individualmente não conseguimos nos manter no tempo ideal na maior parte do tempo. Isso atrapalha muito em endurances que são provas que privilegiam muito a consistência dos pilotos”, ponderou Eduardo. “Acredito que nosso resultado final ficou abaixo do que poderíamos atingir. Tínhamos potencial para estar na metade de cima da tabela, mas ‘pipocamos’ em alguns momentos como pits e na hora de andar no tráfego. De todo modo, a evolução durante a prova foi boa, pois nos treinos livres estávamos virando na casa de 1:09 e no final da corrida era normal virar 1:06, 1:07”, concluiu.

Se a classificação ficou aquém da expectativa, a exultação por estar presente num evento desse porte foi unânime. “Foi uma das experiências mais legais que tive na vida… Espero ter a oportunidade de participar mais vezes, correndo em mais pernas. Fiquei impressionada com a estrutura oferecida e com a organização. Os karts quebraram muito menos do que eu imaginava que quebrariam”, comentou Marjorie Johnscher. Ao analisar o próprio desempenho, a representante feminina da RNK foi franca: “Fiquei com medo, pela qualidade dos pilotos na prova, e isso me atrapalhou bastante. Sei que tenho potencial pra mais e vou correr atrás disso”, prometeu a piloto.

Marjorie Johnscher divide a curva com o piloto da Stock Car Lucas Foresti.

Marjorie Johnscher divide a curva com o piloto da Stock Car Lucas Foresti.

Marjorie também falou sobre a presença feminina, que foi destaque na mídia paulistana. Outras quatro mulheres participaram das 24 Horas – entre elas, a campeã sul-americana de F3 Suzane Carvalho. “É muito legal ver como as meninas se destacam só por não serem homens. E foi muito legal ver como o kart é mais forte entre as mulheres em SP, fui até convidada pra correr em campeonato feminino lá”, admirou-se Marjorie, que aproveitou para elogiar o time: “Foi muito legal o entrosamento e a forma como nos organizamos e nos ajudamos. E também analisar os pontos onde podemos evoluir. A experiência foi sensacional, meus filhos vão ouvir muito sobre isso durante a vida deles”, finalizou.

Dentre os pilotos da RNK, Alessandro Trevisan, estreante em endurances, foi um dos que mais se mostrou satisfeito com sua participação nas 24 Horas. “Foi um fim de semana que ficará marcado para o resto da minha vida, uma mistura de felicidade, ansiedade, adrenalina, pressão, tudo junto e misturado”, exclamou o novato, que também não economizou elogios ao chefe de equipe Tonico. “Sua energia não acabava nunca, o Chico não poderia ter escolhido pessoa melhor para nos ajudar fora da pista”, reconheceu Trevisan. O manager, de fato, foi incansável, não teve um minuto sequer de descanso.

Carregando o nº 6 do RNK Endurance Team, Eduardo Bettega revelou a dificuldade em andar no meio do tráfego.

Carregando o nº 6 do RNK Endurance Team, Eduardo Bettega revelou a dificuldade em andar no meio do tráfego.

O RNK Endurance Team, que em Interlagos contou ainda com Edinho Marques, Marcelo Rosa, Rodolpho e Eduardo Bettega, estuda possíveis opções para sua próxima incursão em prova de longa duração.